Afetado pela queda do preço do petróleo e pela escassez de crédito internacional, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chega nesta terça-feira à cidade de Salvador (BA) para discutir maior acesso aos financiamentos do BNDES, além de reafirmar compromissos para a entrada do país no Mercosul.
O encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz parte da série de reuniões trimestrais entre os dois líderes, que começou em 2007.
Lula e Chávez deverão avançar nas discussões sobre a ampliação do crédito à Venezuela, via BNDES.
A proposta, que já vem sendo costurada pelos dois países, prevê financiamento a obras de infraestrutura realizadas por empresas brasileiras naquele país, com potencial de chegar, a princípio, em US$ 4 bilhões.
Uma fonte do governo venezuelano ouvida pela BBC Brasil, no entanto, afirmou que o valor da linha de crédito do BNDES poderia girar entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões.
Alguns projetos já foram prospectados pelo banco brasileiro, entre eles, a ampliação da rede de metrô em Caracas, no valor de US$ 730 milhões. No ano passado, o Brasil enfrentou problemas com o financiamento a uma hidrelétrica no Equador, que alegou deficiências tanto no contrato como na prestação do serviço, a cargo da empresa Odebrecht.
Apesar dos atritos diplomáticos, o governo equatoriano aceitou pagar a dívida, no valor de U$ 200 milhões.
A avaliação do governo brasileiro é de que não há motivos para "presumir" que a Venezuela adotará a mesma postura. "Eles têm pago os financiamentos em dia", diz uma fonte diplomática.O governo da Venezuela anunciou recentemente que suas receitas com o petróleo caíram pela metade este ano, como reflexo da crise financeira internacional.
Segundo previsão do Fundo Monetário Internacional(FMI), o PIB do país deverá cair 2,2% este ano.
Mercosul
Outro assunto que deve ocupar grande parte da agenda nesta terça-feira são os preparativos para a entrada da Venezuela no Mercosul. O assunto está nas mãos do Senado brasileiro, que recentemente pediu novas informações sobre o processo de adesão.
Os senadores querem detalhes sobre como a Venezuela pretende se adequar às regras do grupo antes de decidir se levam ou não o assunto a plenário.
A expectativa é de que o presidente da Venezuela apresente, durante o encontro, uma proposta mais específica de adesão à Tarifa Externa Comum (TEC).
Prazos e percentuais já foram definidos, mas os produtos "de exceção" ainda não."Existem diversos pontos que precisam ser esclarecidos.
Há registros, por exemplo, de atraso no pagamento pelos produtos brasileiros exportados para a Venezuela", diz o senador Eduardo Azeredo, presidente da Comissão de Relações Exteriores.
O presidente da Federação das Câmaras de Indústria e Comércio Venezuela-Brasil, José Francisco Marcondes Neto, diz que os venezuelanos estão "empenhados" para chegar à reunião desta terça com um cronograma mais detalhado, mas que a aprovação do assunto pelo Senado "não depende disso".
"A aprovação pelo Senado não depende desses detalhes. Brasil e Argentina até hoje discutem quais produtos devem fazer parte da lista de exceções", diz.
Estados Unidos
Além das conversas sobre financiamento do BNDES e Mercosul, a pauta do encontro entre Lula e Chávez inclui ainda a relação com o governo americano.
O assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, diz que os dois presidentes vão discutir "os avanços" na relação entre Chávez e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama."Estamos muito satisfeitos com o progresso das relações entre os dois países", disse Garcia.
Segundo ele, a Venezuela "deu passos positivos" para uma maior aproximação com os Estados Unidos, como a indicação de um diplomata "de altíssimo nível" para representar a Venezuela em Washington.
De acordo com Garcia, Lula e Chávez deverão ainda repassar toda a agenda bilateral, que inclui acordos de cooperação nos setores bancário, agrícola e industrial.
*Colaborou Claudia Jardim, de Caracas para a BBC Brasil
UOL
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