domingo, 1 de março de 2009

Blog do IZB: A Ditadura segundo a Folha de S. Paulo

20 de Fevereiro de 2009 às 20:31 · admin · Arquivado sob Sem Categoria

A Folha de S. Paulo, na sua tentativa desvairada de desqualificar o governo Chávez, insultou a memória histórica e o direito à verdade do povo brasileiro. Em seu editorial do dia 17 de fevereiro - Limites a Chávez - a Folha chama o período militar brasileiro de 64 a 85 de Ditabranda.

Não bastasse isso, frente às cartas que chegaram ao painel do leitor do jornal, contestando tal editorial, o jornal respondeu tentando de forma leviana desqualificar os intelectuais Fabio Comparato e Maria Victória Benevides. Reproduzimos abaixo as cartas publicadas pelo jornal e o infeliz editorial.

Pedimos aos leitores do Blog do IZB que se manifestem, escrevam para Folha de S. Paulo, Painel do Leitor: painel@uol.com.br e expressem seu repúdio ao flagrante desrespeito com a história do nosso país e com as milhares de vitimas, diretas e indiretas da DITADURA MILITAR resultante do GOLPE MILITAR que criou um regime de exceção que torturou, perseguiu, seqüestrou e assassinou cidadãos brasileiros.



Vejam algumas das cartas publicadas pelo Painel do Leitor da Folha de S. Paulo sobre o tema, mais abaixo reproduzimos o editorial "Limites a Chávez"

Ditadura
"Lamentável o uso da palavra "ditabranda" no editorial "Limites a Chávez" (Opinião, 17/2) e vergonhosa a Nota da Redação à manifestação do leitor Sérgio Pinheiro Lopes ("Painel do Leitor", ontem). Quer dizer que a violência política e institucional da ditadura brasileira foi em nível "comparativamente baixo’? Que palhaçada é essa? Quanto de violência é admissível? No grande "Julgamento em Nuremberg" (1961), o personagem de Spencer Tracy diz ao juiz nazista que alegava que não sabia que o horror havia atingido o nível que atingira: "Isso aconteceu quando você condenou à morte o primeiro homem que você sabia que era inocente". A Folha deveria ter vergonha em relativizar a violência. Será que não é por isso que ela se manifesta de forma cada vez maior nos estádios, nas universidades e nas ruas?"
MAURICIO CIDADE BROGGIATO (Rio Grande, RS)

"Inacreditável. A Redação da Folha inventou um ditadômetro, que mede o grau de violência de um período de exceção. Funciona assim: se o redator foi ou teve vítimas envolvidas, será ditadura; se o contrário, será ditabranda. Nos dois casos, todos nós seremos burros."
LUIZ SERENINI PRADO (Goiânia, GO)



"Mas o que é isso? Que infâmia é essa de chamar os anos terríveis da repressão de "ditabranda’? Quando se trata de violação de direitos humanos, a medida é uma só: a dignidade de cada um e de todos, sem comparar "importâncias" e estatísticas. Pelo mesmo critério do editorial da Folha, poderíamos dizer que a escravidão no Brasil foi "doce" se comparada com a de outros países, porque aqui a casa-grande estabelecia laços íntimos com a senzala -que horror!"
MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES , professora da Faculdade de Educação da USP (São Paulo, SP)

"O leitor Sérgio Pinheiro Lopes tem carradas de razão. O autor do vergonhoso editorial de 17 de fevereiro, bem como o diretor que o aprovou, deveriam ser condenados a ficar de joelhos em praça pública e pedir perdão ao povo brasileiro, cuja dignidade foi descaradamente enxovalhada. Podemos brincar com tudo, menos com o respeito devido à pessoa humana."
FÁBIO KONDER COMPARATO , professor universitário aposentado e advogado (São Paulo, SP)

Nota da Redação - A Folha respeita a opinião de leitores que discordam da qualificação aplicada em editorial ao regime militar brasileiro e publica algumas dessas manifestações acima. Quanto aos professores Comparato e Benevides, figuras públicas que até hoje não expressaram repúdio a ditaduras de esquerda, como aquela ainda vigente em Cuba, sua "indignação" é obviamente cínica e mentirosa.

Ditadura
"Golpe de Estado dado por militares derrubando um governo eleito democraticamente, cassação de representantes eleitos pelo povo, fechamento do Congresso, cancelamento de eleições, cassação e exílio de professores universitários, suspensão do instituto do habeas corpus, tortura e morte de dezenas, quiçá de centenas, de opositores que não se opunham ao regime pelas armas (Vladimir Herzog, Manuel Fiel Filho, por exemplo) e tantos outros muitos desmandos e violações do Estado de Direito.
Li no editorial da Folha de hoje que isso consta entre "as chamadas ditabrandas -caso do Brasil entre 1964 e 1985" (sic). Termo este que jamais havia visto ser usado.
A partir de que ponto uma "ditabranda", um neologismo detestável e inverídico, vira o que de fato é? Quantos mortos, quantos desaparecidos e quantos expatriados são necessários para uma "ditabranda" ser chamada de ditadura? O que acontece com este jornal?
É a "novilíngua"?
Lamentável, mas profundamente lamentável mesmo, especialmente para quem viveu e enterrou seus mortos naqueles anos de chumbo.
É um tapa na cara da história da nação e uma vergonha para este diário."
SERGIO PINHEIRO LOPES (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Na comparação com outros regimes instalados na região no período, a ditadura brasileira apresentou níveis baixos de violência política e institucional.

Íntegra do editorial:

Limites a Chávez

Apesar da vitória eleitoral do caudilho venezuelano, oposição ativa e crise do petróleo vão dificultar perpetuação no poder
O ROLO compressor do bonapartismo chavista destruiu mais um pilar do sistema de pesos e contrapesos que caracteriza a democracia. Na Venezuela, os governantes, a começar do presidente da República, estão autorizados a concorrer a quantas reeleições seguidas desejarem.
Hugo Chávez venceu o referendo de domingo, a segunda tentativa de dinamitar os limites a sua permanência no poder. Como na consulta do final de 2007, a votação de anteontem revelou um país dividido. Desta vez, contudo, a discreta maioria (54,9%) favoreceu o projeto presidencial de aproximar-se do recorde de mando do ditador Fidel Castro.
Outra diferença em relação ao referendo de 2007 é que Chávez, agora vitorioso, não está disposto a reapresentar a consulta popular. Agiria desse modo apenas em caso de nova derrota. Tamanha margem de arbítrio para manipular as regras do jogo é típica de regimes autoritários compelidos a satisfazer o público doméstico, e o externo, com certo nível de competição eleitoral.
Mas, se as chamadas "ditabrandas" -caso do Brasil entre 1964 e 1985- partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça-, o novo autoritarismo latino-americano, inaugurado por Alberto Fujimori no Peru, faz o caminho inverso. O líder eleito mina as instituições e os controles democráticos por dentro, paulatinamente.
Em dez anos de poder, Hugo Chávez submeteu, pouco a pouco, o Legislativo e o Judiciário aos desígnios da Presidência. Fechou o círculo de mando ao impor-se à PDVSA, a gigante estatal do petróleo.
A inabilidade inicial da oposição, que em 2002 patrocinou um golpe de Estado fracassado contra Chávez e depois boicotou eleições, abriu caminho para a marcha autoritária; as receitas extraordinárias do petróleo a impulsionaram. Como num populismo de manual, o dinheiro fluiu copiosamente para as ações sociais do presidente, garantindo-lhe a base de sustentação.
Nada de novo, porém, foi produzido na economia da Venezuela, tampouco na sua teia de instituições políticas; Chávez apenas a fragilizou ao concentrar poder. A política e a economia naquele país continuam simplórias -e expostas às oscilações cíclicas do preço do petróleo.
O parasitismo exercido por Chávez nas finanças do petróleo e do Estado foi tão profundo que a inflação disparou na Venezuela antes mesmo da vertiginosa inversão no preço do combustível. Com a reviravolta na cotação, restam ao governo populista poucos recursos para evitar uma queda sensível e rápida no nível de consumo dos venezuelanos.
Nesse contexto, e diante de uma oposição revigorada e ativa, é provável que o conforto de Hugo Chávez diminua bastante daqui para a frente, a despeito da vitória de domingo.

Folha de S. Paulo - 17 de fevereiro de 2009

Permalink Enviar por e-mail. Hits para esta publicação: 587.
4 Comentários »

1.
silvio freitas disse,

21 de Fevereiro de 2009 @ 22:26

E quanto a Chaves,o tema principal do editorial,nenhum comentário publicado neste blog.Gostaria de saber o que pensam os que já comentaram,se acham o governo atual da Venezuela um modelo de democracia ou nesta parte ojornal esta certo.Eu acho que esta.
2.
Márcio Luís Chila Freyesleben disse,

22 de Fevereiro de 2009 @ 09:24

A análise desconstrucionista da Contrarrevolução de 64 permitiu à esquerda brasileira afirmar que os militares perseguiram pessoas que lutavam pela democracia e pela liberdade, assim subvertendo a verdade, pois qualquer pessoa com um mínimo de honestidade intelectual sabe que aqueles indivíduos eram terrorista que lutavam pelo comunismo, regime que despreza a democracia e a liberdade. Fazem isso porque, para o marxismo cultural, a história resume-se à análise das lutas de classes: luta dos bons contra os maus. Para eles, a Contrarrevolução foi um Golpe Militar.
Parabéns à coragem da Folha!

Márcio Luís Chila Freyesleben
Procurador de Justiça
Ministério Público
Minas Gerais
3.
Blog do IZB » Intelectuais lançam manifesto em repúdio à ‘Folha’ disse,

22 de Fevereiro de 2009 @ 20:00

[…] A Ditadura segundo a Folha de S. Paulo […]
4.
Valdeci Alves disse,

23 de Fevereiro de 2009 @ 09:07

Ontém assisti o filme “Zuzu Angel’, muito bem interpretado po Patrícia Pilar, que retrata a hitória de uma estilista da classe média, mãe de um jovem militante que lutava por democracia no Brasil nos anos de chumbo e que foi covardemente torturado e morto pela tal “ditabranda”.Zuzu Angel também foi assassinada pelos mesmos que mataram seu filho. Mesmo após 39 anos depois me emocionei com a história e chorei. Hoje, ao ler um editorial como este, não choro, mas fico indignado.
Obs: ” Os filhotes da ditadura estão soltando suas asinhas”.

Nenhum comentário: