domingo, 15 de fevereiro de 2009
Chávez vence referendo e conquista reeleição ilimitada
A emenda constitucional que coloca fim ao limite para a reeleição aos cargos públicos foi aprovada neste domingo com 54, 36% dos votos.
Com esta vitória, o presidente Venezuelano Hugo Chávez abre caminho para disputar um terceiro mandato presidencial nas eleições de 2012. A emenda também beneficia a governadores, prefeitos, deputados e vereadores.
* Ariana Cubillos/AP
Chávez comemora vitória no referendo na varanda do palácio presidencial de Miraflores
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), com mais de 92% das urnas apuradas, a opção do "não" obteve 45,63% dos votos deste domingo. A abstenção até este momento foi de 32,95 %.
Simpatizantes do governo já festejavam nos principais Estados do país, antes mesmo do anúncio oficial dos resultados.
Logo depois de votar no referendo, na tarde deste domingo, Chávez disse que o resultado das urnas definiria seu "futuro político". E foi com este clima que os venezuelanos compareceram às urnas. De um lado os chavistas que defendiam a "continuação da revolução bolivariana" sob a liderança de Chávez e de outro, opositores que rejeitavam o que consideram como uma medida para a "perpetuação do presidente no poder". Antes do pleito, o presidente venezuelano que governa o país há uma década, anunciou que se saísse vitorioso aprofundaria as mudanças rumo à consolidação de uma revolução socialista na Venezuela.
Com a vitória, Chávez interpretará o resultado como um "categórico" respaldo a seu projeto de governo, na opinião do sociólogo Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela. "O que ainda não podemos prever é que tipo de medidas de radicalização tomará o presidente. Estamos em meio a uma crise financeira, não seria o momento adequado para desencadear crises políticas internas", afirmou Lander à BBC Brasil.
Ao longo da votação, houve denúncias de que as urnas eletrônicas não registraram a opção escolhida pelo eleitor e esses votos acabaram sendo anulados. Esses incidentes foram qualificados como "fatos isolados" pela organização não-governamental Olho Eleitoral, principal organismo de observação eleitoral do país.
INFOGRÁFICO
* Arte UOL
* Veja as principais conquistas e tropeços de Hugo Chávez nos dez anos de poder na Venezuela
"O processo eleitoral transcorreu com normalidade, com uma importante participação do eleitorado", afirmou à BBC Brasil Luis Lander, analista da ONG. De acordo com meios de comunicação locais, cinco estudantes opositores foram detidos em Caracas na tarde deste domingo. As causas ainda são desconhecidas. Esta foi a 15ª eleição no país em dez anos do governo do presidente Hugo Chávez.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, 1,6 mil observadores nacionais e 98 internacionais, provenientes de 25 países, acompanharam o pleito deste domingo. As últimas horas de votação foram marcadas por tensão verbal entre governo e oposição.
O deputado opositor Ismael Garcia disse "ter certeza que os resultados de hoje serão favoráveis à democracia, e esses serão os resultados que vamos reconhecer", afirmou o deputado, indicando que a oposição não aceitará resultados desfavoráveis à opção do "Não" à emenda constitucional.
COMEMORAÇÕES
* Ariana Cubillos/AP
Multidão comemora vitória do "sim" no referendo da Venezuela
* Leia mais
Representantes do governo, entre eles o ministro de Relações Exteriores, Nicolas Maduro, afirmaram que já há uma "tendência irreversível" dos resultados e pediu aos competidores aceitarem os resultados das urnas.
Na tarde deste domingo, o movimento estudantil anunciou ter esperado até as 15h ( 16h30) para sair a votar em massa com todos os jovens opositores. A estratégia foi interpretada como um mecanismo para confundir as pesquisas de boca-de-urna realizadas pelo governo. Até o chamado do movimento estudantil cerca de 50% dos eleitores já haviam votado. Ao longo do dia, na zona leste de Caracas, reduto da oposição, as filas no centro de votação foram diminuindo. Durante a tarde, um carro de som da oposição circulou pelos principais bairros desta zona convocando os moradores a votarem.
No oeste da cidade, nos bairros periféricos de Petare e Catia, havia grande concentração de eleitores durante a tarde. Nestes mesmos bairros, ao longo da manhã, os centros de votação estavam vazios.
Venezuelanos decidem futuro de Chávez em referendo
Depois de uma década no poder, o futuro do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estará em jogo neste domingo, quando mais de 16 milhões de venezuelanos são esperados nas urnas para decidir em referendo se aprovam ou não o fim do limite à reeleição.
Referendo na Venezuela
* Jorge Silva/Reuters
Uma vitória do "Sim" permitirá ao presidente Hugo Chávez candidatar-se a um terceiro mandato presidencial, com o qual pretende consolidar um modelo socialista na Venezuela
As últimas pesquisas de intenção de voto apontam que a emenda poderia ser aprovada por uma margem estreita de votos.
Um estudo extra-oficial do governo, porém, prevê uma vitória oficialista com uma vantagem entre oito e dez pontos sobre a opção do "Não".
Uma vitória do "Sim" permitirá ao presidente Hugo Chávez candidatar-se a um terceiro mandato presidencial, com o qual pretende consolidar um modelo socialista no país.
"No domingo, vocês decidirão meu destino político. A decisão de vocês é soberana (...) Eu farei o que vocês mandarem", afirmou Chávez na quinta-feira, durante ato de encerramento da campanha.
Para confirmar as projeções, o governo tenta recuperar cerca de 3 milhões de eleitores chavistas, que se abstiveram de votar no referendo de 2007, quando uma reforma constitucional mais ampla foi rejeitada nas urnas.
O motivo para o desencanto desses eleitores seria a ausência de políticas públicas capazes de combater problemas estruturais como a criminalidade, a inflação e a coleta de lixo.
Apesar disso, Chávez argumenta que ele é o único capaz de "garantir a paz" e a continuidade dos programas sociais que levaram a Venezuela a contar com uma queda significativa dos índices de pobreza.
A oposição, por sua vez, aposta na conquista do voto dos chamados "ni-nis" (que não estão nem com um grupo, nem com outro), e que correspondem a cerca de 26% do eleitorado e poderiam ter um papel decisivo no resultado final.
Futuro de Chávez em jogo
* Jorge Silva/Reuters
Mais de 16 milhões de venezuelanos são esperados nas urnas para decidir em referendo se aprovam ou não o fim do limite à reeleição; resultado pode mudar destino de Hugo Chávez
Para este grupo, a emenda constitucional afeta o princípio de alternância democrática.
"Não existe justificativa nenhuma para pretender mudar a Constituição, só para agradar a ambição de uma pessoa de querer governar além dos 14 anos (acumulados por dois mandatos consecutivos)", afirmou Antonio Ledezma, novo prefeito da Caracas.
Para o governo, o referendo é mais uma "prova do caráter democrático" da revolução bolivariana.
"Todos os avanços do nosso processo se fizeram e se farão sempre com a aprovação do povo venezuelano. Aqui não há possibilidade alguma que as coisas ocorram de outra maneira", afirmou à BBC Brasil Maximilien Arvelaiz, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência.
Chávez enfrentará a oposição nas urnas mais fortalecido do que nas eleições regionais do ano passado, quando os partidos Pátria Para Todos (PPT) e Comunista (PC) romperam com a aliança governista e lançaram candidaturas próprias para os cargos de prefeitos e governadores.
Depois que a proposta de reeleição se estendeu a todos os cargos públicos, não apenas à Presidência, o PPT e o PC se reacomodaram no campo oficialista e reforçaram a campanha do "Sim".
De acordo com governistas, a proposta teria seduzido inclusive políticos opositores.
"Reclamam da boca para fora, porque acabaram fazendo campanha a favor do Sim", afirmou ao canal estatal o deputado oficialista Carlixto Ortega.
Além de ter enfrentado a poderosa máquina de propaganda do Estado durante a campanha, a oposição chega ao referendo de domingo dividida, desarticulada e carecendo da presença de um líder capaz de unificar os anseios dos eleitores anti-chavistas.
Uma vitória do "Sim" poderá ser interpretada por Chávez como um aval para radicalizar o governo. É o que espera a maioria dos simpatizantes do presidente.
"Depois da vitória temos que dar mais poder ao povo e ir-nos livrando dos falsos revolucionários que estão ao lado do presidente", afirmou o professor Adolfo Gonzalez, durante uma manifestação de apoio a emenda.
Para a oposição o desafio é ainda maior, independentemente do resultado do referendo, na opinião do historiador venezuelano Miguel Tinker Salas, do Pomona College, na Califórnia.
"Para a oposição não se trata apenas de ganhar uma eleição onde a opção é Sim ou Não. Se trata de ter um projeto diferente ao de Chávez para apresentar ao país", afirmou.
Mais de 140 mil efetivos das Forças Armadas estarão a cargo da segurança dos 11,6 mil centros de votação espalhados pelo país.
De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, o primeiro boletim com resultados "irreversíveis" será divulgado três horas depois do fechamento das urnas, previsto para ocorrer às 18h (hora local, 19h30 em Brasília).
UO
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Com Chávez, Venezuela estreita laços comerciais com o Brasil
Edilson Saçashima
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Quando Chávez assumiu a presidência da Venezuela, em 2 de fevereiro de 1999, o mundo passava por uma crise financeira deflagrada na Rússia e que se espalhou pelo planeta. No Brasil, FHC iniciava o segundo mandato como presidente e tentava contornar os ataques especulativos ao Real. Dez anos depois, o mundo vive uma nova crise financeira, que alguns classificam como sem precedentes na história. O Brasil, agora sob o comando de Lula, em seu segundo mandato, busca minimizar os efeitos da crise em sua economia. E na Venezuela, bem, Chávez ainda está lá...
Para o Brasil, o período de dez anos de governo Chávez pode ser resumido em números. Em 1999, as exportações brasileiras para a Venezuela somaram US$ 536,67 milhões. Em 2006, o volume saltou para US$ 3,555 bilhões, um aumento de 562,4%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
No primeiro semestre de 2007, a venda de carne bovina desossada brasileira aumentou 449% em relação ao mesmo período de 2006. Já a venda de automóveis, o principal produto de exportação brasileiro para a Venezuela, aumentou 147,55%. As exportações venezuelanas ao Brasil no primeiro semestre de 2007, no entanto, sofreram uma diminuição de 23,8%.
Em uma comparação entre FHC e Lula, nota-se que o governo do petista foi aquele que promoveu o maior aumento do comércio bilateral entre o Brasil e a Venezuela. Entre 1999 e 2002, período em que Fernando Henrique Cardoso era o presidente, as vendas brasileiras aumentaram 48%. No governo Lula, entre os anos 2003 e 2006, o aumento foi de 492%.
Ultimato ao Brasil
Foram alguns desses números que Chávez, conhecido por suas frases de efeito e suas atitudes polêmicas, usou para dar uma das poucas alfinetadas no Brasil. Em julho de 2007, Chávez deu um ultimato ao Congresso brasileiro para a adesão da Venezuela no Mercosul. "Vamos esperar até setembro. Não esperaremos mais, porque os Congressos do Brasil e do Paraguai não têm razão política nem moral para não aprovar nossa entrada. Se não o fizerem, vamos nos retirar até que haja novas condições", disse Chávez durante discurso transmitido pela televisão venezuelana. "Empresários venezuelanos, não vou deixá-los desamparados diante de ninguém, nem diante do Brasil, nem diante dos Estados Unidos, nem diante da Europa, nem diante do Irã, nem diante de ninguém", acrescentou.
Em reação ao pronunciamento, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que ninguém estabelecia prazos para nenhum país. "Ninguém estabelece prazo para nós nem nós estabelecemos prazo para ninguém", afirmou.
Poucos meses depois, em setembro de 2007, Lula e Chávez se encontravam para uma reunião bilateral, o que foi considerado como uma espécie de marco do fim do distanciamento entre os dois líderes. Desde então, os dois presidentes já tiveram outros cinco encontros bilaterais.
Se Chávez elegeu os EUA como o "grande satã" do mundo, o Brasil parece ser visto pelo líder venezuelano como parceiro comercial. A entrada no Mercosul, defendida por Chávez, permitiria à Venezuela superar algumas barreiras burocráticas e aumentar as vendas ao Brasil.
Chávez na Sapucaí
O Brasil pode não ter peso como comprador de produtos venezuelanos, no entanto, já foi um garoto-propaganda (consciente ou inconscientemente, é difícil saber) da mais valiosa mercadoria da Venezuela: o petróleo.
Em 2006, a estatal venezuelana de petróleo PDVSA (Petróleos de Venezuela) foi a patrocinadora da escola de samba Vila Isabel. Estima-se que ela tenha investido entre US$ 500 mil e US$ 1,5 milhão na escola, que foi a campeã do carnaval carioca naquele ano com o enredo "Soy loco por ti, América: A Vila canta a latinidade".
Entre os homenageados pela escola estava Simon Bolívar, o herói da independência da Venezuela e de outros países do continente. É esta figura histórica que Chávez se inspira para conduzir a sua política. Um dos primeiros atos de Chávez como presidente foi rebatizar o nome do país como República Bolivariana da Venezuela.
"Congresso brasileiro é papagaio de Washington"
Mas nem tudo é festa e negócios na relação entre Venezuela e Brasil. Em maio de 2007, Hugo Chávez disse que o Congresso brasileiro "repete como um papagaio" o que diz o Congresso dos EUA. Essa foi a resposta a uma monção do Senado brasileiro que pedia a Chávez para reconsiderar a decisão de não renovar a concessão da RCTV, uma rede de televisão oposicionista na Venezuela.
Em resposta, Lula disse que Chávez "tem que cuidar da Venezuela". O Itamaraty se manifestou em nota em que afirmava que o governo brasileiro repudiava o questionamento da independência e dignidade do Congresso.
A crise diplomática durou alguns dias e terminou com uma declaração conciliadora de Lula. "Chávez é parceiro, não um perigo para a América Latina. Chávez tem suas razões para brigar com os Estados Unidos. E os Estados Unidos têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os Estados Unidos ou a Venezuela", disse.
FHC negocia trégua com Bush
Apesar de EUA e Venezuela "terem suas razões para brigar", o primeiro encontro entre George W. Bush e Hugo Chávez foi pautado pela diplomacia e contou com a intervenção de Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente brasileiro conta em seu livro "A Arte da Política" que Bush manifestou a ele o temor de ser hostilizado por Chávez, inimigo declarado da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o acordo comercial idealizado pelos EUA, durante a Cúpula das Américas, em Quebéc, Canadá, em 2001. Seria a primeira viagem internacional de George W. Bush como presidente.
FHC, então, expôs sua opinião a Chávez durante uma reunião. "Expus a Chávez a opinião de que, se ele fosse cortês, desarmaria o interlocutor, mesmo porque não acreditava que o Presidente da Venezuela viesse a ser agressivo com o Presidente norte-americano", escreve FHC no livro.
A resposta de Chávez, segundo FHC, foi: "Você me conhece. Eu sou ardoroso. Quando, nas reuniões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), começo a me entusiasmar, o sultão de Qatar, que é meu amigo, tem uma combinação comigo: olha para mim com as mãos postas perto do rosto, em forma de oração, e eu modero minha fala, antes de proclamar a República nas monarquias árabes. Vamos fazer o mesmo em Québec".
Na Cúpula, FHC fez um discurso em que afirmava: "A Alca será bem-vinda se a sua criação for um passo para dar acesso aos mercados mais dinâmicos". Ao terminar o discurso, FHC dirigiu-se à sua cadeira. Hugo Chávez se aproximou do brasileiro e, com as mãos em sentido de oração, saudou FHC "efusivamente". O gesto valeu um comentário do ex-presidente em seu livro. "Nós, latino-americanos, podemos até não ser bons negociadores, mas não perdemos o senso de humor".
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Quando Chávez assumiu a presidência da Venezuela, em 2 de fevereiro de 1999, o mundo passava por uma crise financeira deflagrada na Rússia e que se espalhou pelo planeta. No Brasil, FHC iniciava o segundo mandato como presidente e tentava contornar os ataques especulativos ao Real. Dez anos depois, o mundo vive uma nova crise financeira, que alguns classificam como sem precedentes na história. O Brasil, agora sob o comando de Lula, em seu segundo mandato, busca minimizar os efeitos da crise em sua economia. E na Venezuela, bem, Chávez ainda está lá...
Para o Brasil, o período de dez anos de governo Chávez pode ser resumido em números. Em 1999, as exportações brasileiras para a Venezuela somaram US$ 536,67 milhões. Em 2006, o volume saltou para US$ 3,555 bilhões, um aumento de 562,4%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
No primeiro semestre de 2007, a venda de carne bovina desossada brasileira aumentou 449% em relação ao mesmo período de 2006. Já a venda de automóveis, o principal produto de exportação brasileiro para a Venezuela, aumentou 147,55%. As exportações venezuelanas ao Brasil no primeiro semestre de 2007, no entanto, sofreram uma diminuição de 23,8%.
Em uma comparação entre FHC e Lula, nota-se que o governo do petista foi aquele que promoveu o maior aumento do comércio bilateral entre o Brasil e a Venezuela. Entre 1999 e 2002, período em que Fernando Henrique Cardoso era o presidente, as vendas brasileiras aumentaram 48%. No governo Lula, entre os anos 2003 e 2006, o aumento foi de 492%.
Ultimato ao Brasil
Foram alguns desses números que Chávez, conhecido por suas frases de efeito e suas atitudes polêmicas, usou para dar uma das poucas alfinetadas no Brasil. Em julho de 2007, Chávez deu um ultimato ao Congresso brasileiro para a adesão da Venezuela no Mercosul. "Vamos esperar até setembro. Não esperaremos mais, porque os Congressos do Brasil e do Paraguai não têm razão política nem moral para não aprovar nossa entrada. Se não o fizerem, vamos nos retirar até que haja novas condições", disse Chávez durante discurso transmitido pela televisão venezuelana. "Empresários venezuelanos, não vou deixá-los desamparados diante de ninguém, nem diante do Brasil, nem diante dos Estados Unidos, nem diante da Europa, nem diante do Irã, nem diante de ninguém", acrescentou.
Em reação ao pronunciamento, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que ninguém estabelecia prazos para nenhum país. "Ninguém estabelece prazo para nós nem nós estabelecemos prazo para ninguém", afirmou.
Poucos meses depois, em setembro de 2007, Lula e Chávez se encontravam para uma reunião bilateral, o que foi considerado como uma espécie de marco do fim do distanciamento entre os dois líderes. Desde então, os dois presidentes já tiveram outros cinco encontros bilaterais.
Se Chávez elegeu os EUA como o "grande satã" do mundo, o Brasil parece ser visto pelo líder venezuelano como parceiro comercial. A entrada no Mercosul, defendida por Chávez, permitiria à Venezuela superar algumas barreiras burocráticas e aumentar as vendas ao Brasil.
Chávez na Sapucaí
O Brasil pode não ter peso como comprador de produtos venezuelanos, no entanto, já foi um garoto-propaganda (consciente ou inconscientemente, é difícil saber) da mais valiosa mercadoria da Venezuela: o petróleo.
Em 2006, a estatal venezuelana de petróleo PDVSA (Petróleos de Venezuela) foi a patrocinadora da escola de samba Vila Isabel. Estima-se que ela tenha investido entre US$ 500 mil e US$ 1,5 milhão na escola, que foi a campeã do carnaval carioca naquele ano com o enredo "Soy loco por ti, América: A Vila canta a latinidade".
Entre os homenageados pela escola estava Simon Bolívar, o herói da independência da Venezuela e de outros países do continente. É esta figura histórica que Chávez se inspira para conduzir a sua política. Um dos primeiros atos de Chávez como presidente foi rebatizar o nome do país como República Bolivariana da Venezuela.
"Congresso brasileiro é papagaio de Washington"
Mas nem tudo é festa e negócios na relação entre Venezuela e Brasil. Em maio de 2007, Hugo Chávez disse que o Congresso brasileiro "repete como um papagaio" o que diz o Congresso dos EUA. Essa foi a resposta a uma monção do Senado brasileiro que pedia a Chávez para reconsiderar a decisão de não renovar a concessão da RCTV, uma rede de televisão oposicionista na Venezuela.
Em resposta, Lula disse que Chávez "tem que cuidar da Venezuela". O Itamaraty se manifestou em nota em que afirmava que o governo brasileiro repudiava o questionamento da independência e dignidade do Congresso.
A crise diplomática durou alguns dias e terminou com uma declaração conciliadora de Lula. "Chávez é parceiro, não um perigo para a América Latina. Chávez tem suas razões para brigar com os Estados Unidos. E os Estados Unidos têm suas razões para brigar com a Venezuela. O Brasil não tem nenhuma razão para brigar com os Estados Unidos ou a Venezuela", disse.
FHC negocia trégua com Bush
Apesar de EUA e Venezuela "terem suas razões para brigar", o primeiro encontro entre George W. Bush e Hugo Chávez foi pautado pela diplomacia e contou com a intervenção de Fernando Henrique Cardoso.
O ex-presidente brasileiro conta em seu livro "A Arte da Política" que Bush manifestou a ele o temor de ser hostilizado por Chávez, inimigo declarado da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), o acordo comercial idealizado pelos EUA, durante a Cúpula das Américas, em Quebéc, Canadá, em 2001. Seria a primeira viagem internacional de George W. Bush como presidente.
FHC, então, expôs sua opinião a Chávez durante uma reunião. "Expus a Chávez a opinião de que, se ele fosse cortês, desarmaria o interlocutor, mesmo porque não acreditava que o Presidente da Venezuela viesse a ser agressivo com o Presidente norte-americano", escreve FHC no livro.
A resposta de Chávez, segundo FHC, foi: "Você me conhece. Eu sou ardoroso. Quando, nas reuniões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), começo a me entusiasmar, o sultão de Qatar, que é meu amigo, tem uma combinação comigo: olha para mim com as mãos postas perto do rosto, em forma de oração, e eu modero minha fala, antes de proclamar a República nas monarquias árabes. Vamos fazer o mesmo em Québec".
Na Cúpula, FHC fez um discurso em que afirmava: "A Alca será bem-vinda se a sua criação for um passo para dar acesso aos mercados mais dinâmicos". Ao terminar o discurso, FHC dirigiu-se à sua cadeira. Hugo Chávez se aproximou do brasileiro e, com as mãos em sentido de oração, saudou FHC "efusivamente". O gesto valeu um comentário do ex-presidente em seu livro. "Nós, latino-americanos, podemos até não ser bons negociadores, mas não perdemos o senso de humor".
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